sexta-feira, 10 de outubro de 2008


Por uma estrada, um dia, uma criança Muito loira e risonha, nela andava.
Seu coração, tão cheio de bonança,
O pequenino peito palpitava.
Em uma das mãozinhas segurava um arco de ouro,
E noutra ela trazia
Setas douradas, com que costumava ferir os corações, que sempre via.

A boca cor de rosa, uma canção muito Doce e divina balbuciava.
O canto extasiava o coração.
Era
Amor, que cantando, assim passava.
Ele já ia em meio da jornada;
Porém, certa manhã de primavera, Sentou-se numa pedra dessa estrada,
A meditar no mal que ele fizera.

"Meu Deus!
Com essa minha travessura
Não pensei tanto dano assim causar."
E tendo a alma repleta de amargura, Arrependido,
Amor pôs-se a chorar.
Nesse instante, porém, uma donzela, que Tinha as vestes verdes cor do mar,
Parou ali.
E a sua voz tão bela
Procurou o menino consolar.

-"Não chores mais, meu anjo, vem comigo, eu sei o que te causa tanta dor.
É por isso que eu venho ter contigo; Enxuga esse teus olhos, Deus do Amor!"
-"Eu queria saber - disse a criança - O teu nome...
Afinal como é então?"
-"Meu nome é lindo, chamo-me
Esperança", respondeu-lhe com toda emoção.
-"Quero ir contigo, pela estrada afora,
Consolar esses pobres corações; Eles sofrem por tua causa agora e choram as perdidas ilusões".

E os dois partiram, com as mãos unidas, Sorrindo ia a Esperança a consolar.
Caminhavam assim, por avenidas, que Um sol ardente vinha iluminar.
Por muito e muito tempo eles andaram, Até que enfim, em uma encruzilhada,
Cansados,
Esperança e Amor pararam, Estavam quase ao término da jornada.
Ali tudo era belo... Bem distante Erguiam-se montanhas azuladas.
Aos seus pés, a água clara e murmurante Passava sob as flores perfumadas.

Traído Amor e a Esperança, Embevecidos,o céu de anil ficaram a fitar.
E como ambos estavam distraídos, não Sentiram alguém se aproximar.
"Aqui estou eu", falou uma voz dolente Que também traduzia a ansiedade,
"Meu nome é triste - disse docemente - Mas é bem lindo, eu sou a
Saudade.

- "Os corações, que tu Amor, feriste, Agora estão cansados de chorar".
- "Tu,
Esperança, tanto os iludiste!... Pra que foi que os fizeste em vão sonhar?"
-"Ficai! Que junto aos pobres desgraçados Saberei preencher vosso lugar".
-"Eles hão de sorrir mais consolados; Junto deles eu sempre hei de ficar".
-"E há de então repassar-lhes pela mente o passado, que outrora os fez sonhar.

-"Quem sabe se mais lindo e mais sorridente,
Porque com
Saudade hão de evocar!" Assim é a vida.
Amamos e sentimos A
Esperança afagar o coração;
Porém bem cedo nos desiludimos.
Junto a nós
Saudade fica então.

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